Breves notas sobre a participação Portuguesa na 1ª Grande Guerra

BREVES NOTAS SOBRE A PARTICIPAÇÃO
PORTUGUESA NA 1ª GRANDE GUERRA
1914

Servindo de pretexto, a recusa do Reino da Sérvia em aceitar que as investigações ao assassinato do Arquiduque Francisco Fernando e de sua mulher a Princesa Sofia, ocorrido em Sarajevo em 28 de Junho de 1914, fossem conduzidas pelas autoridades austríacas, o Império Austro-húngaro declarou guerra à Sérvia em 28 de Julho de 1914 e no dia seguinte bombardeou Belgrado. No entanto, só no dia 1 de Agosto de 1914, com a declaração de guerra da Alemanha à Rússia, inicia-se formalmente a 1ª Grande Guerra que haveria, durante mais de quatro anos, trazer inúmeros infortúnios a todos os que nela se viram obrigados a intervir.

Texto n.º 1 - 1914

Servindo de pretexto, a recusa do Reino da Sérvia em aceitar que as investigações ao assassinato do Arquiduque Francisco Fernando e de sua mulher a Princesa Sofia, ocorrido em Sarajevo em 28 de Junho de 1914, fossem conduzidas pelas autoridades austríacas, o Império Austro-húngaro declarou guerra à Sérvia em 28 de Julho de 1914 e no dia seguinte bombardeou Belgrado. No entanto, só no dia 1 de Agosto de 1914, com a declaração de guerra da Alemanha à Rússia, inicia-se formalmente a 1ª Grande Guerra que haveria, durante mais de quatro anos, trazer inúmeros infortúnios a todos os que nela se viram obrigados a intervir.

 

De facto, no dia 1 de Agosto, pelas 17:00 H, o Embaixador Alemão, entregou em S. Petersburgo a declaração de guerra entre aquelas duas nações, cada uma apoiando os contendores de uma disputa até aí regional, isto é, o Czar das Rússias, mobilizando os seus exércitos em reforço da dignidade da soberania Sérvia e o Kaizer da Alemanha garantindo o apoio ao Imperador Francisco José numa eventual contenda com a Rússia e ocasionando o alargamento sucessivo do teatro de operações à beligerância global da Europa. Esta circunstância, determinará que o Império Alemão de imediato, desenvolvesse outras acções militares, em outros pontos do Mundo, não tanto expansionistas das suas influências territoriais, mas fixadoras de meios militares dos seus adversários, descentralizando assim, o esforço militar da Europa para outras zonas, com relevo para a África, onde Portugal tinha as suas principais colónias.

 

Assim vai suceder em 25 de Agosto de 1914, com o ataque de uma força proveniente da África Oriental Alemã ao Posto fronteiriço de Maziúa, no norte de Moçambique, na margem do Rovuma, dando-se a primeira baixa neste conflito, apesar de Portugal ainda não se encontrar em situação de beligerância declarada, o que só se virá a verificar em 9 de Março de 1916, em consequência do apresamento em 23 de Fevereiro dos navios alemães surtos nos portos portugueses. O primeiro militar nacional morto em combate na 1ª Grande Guerra foi um Sargento Enfermeiro da Armada de apelido Costa, que comandava aquele posto fronteiriço e que pelas 05:00 H foi atacado por uma força militar proveniente daquela possessão Alemã, provocando ainda alguns feridos na pequena guarnição indígena que mantinha aquela posição.

 

Na época, já se tinha verificado a 2 de Agosto a invasão do Luxemburgo e a 4 de Agosto da Bélgica, pelas divisões alemãs, o que irá determinar uma catadupa de acontecimentos que levarão ao envolvimento generalizado da Europa no conflito. A 3 de Agosto a declaração de guerra da Alemanha à França, que garantia a neutralidade da Bélgica e em 5 de Agosto a declaração de guerra da Grã-Bretanha à Alemanha, com a projecção da FEB (Força Expedicionária Britânica) para França em 9 de Agosto.

 

Entretanto, Portugal, em 7 de Agosto, declara a sua não neutralidade e a 14 autoriza o desembarque de tropas britânicas na Beira com destino à Niassalândia, dando-se início ao esforço de guerra de Portugal, inicialmente como resposta aos apetites do Império Alemão, principalmente sobre as nossas colónias de Angola e Moçambique, para onde, nos dias 11 e 12 de Setembro e na base de mobilização ocorrida em 18 de Agosto de 1914, embarcaram no Cais de Alcântara, respectivamente1525 homens para Angola e 1539 para Moçambique, sendo que as primeiras eram compostas pelo 3º Batalhão do RI14 (Viseu), 3º Esquadrão do RC9 (Porto), 2ª Bataria do RAM (Viana do Castelo), 2ª Bataria do 1º GM (Lisboa), Serviços de Saúde do 1º GCS (Lisboa) e Administração Militar do 1º GCAM (Lisboa), comandadas pelo Ten-Coronel Alves Roçadas e as segundas comandadas pelo Ten-Coronel Massano do Amorim e composta pelo 3º Batalhão do RI15 (Tomar), 4º Esquadrão do RC10 (Vila Viçosa), 4ª Bataria do RAM (Évora), Serviços de Saúde do 2º GCS (Coimbra) e Administração Militar do 2º GCAM (Coimbra). A estas expedições outras se seguiram, incluindo um Batalhão de Marinha comandado pelo 1º Tenente Afonso Cerqueira e que viriam a totalizar 9.209 para Angola e 30.701 para Moçambique de efectivos para aquelas colónias, não se contabilizando aqui o esforço de mobilização local.

 

Na Europa com a ocupação da Bélgica e a queda de Bruxelas em 24 de Agosto terminava a Batalha das Fronteiras a que se seguirá uma ofensiva francesa tendente a recuperar a Alsácia, ocasionando, ainda durante o mês de Agosto, as suas primeiras derrotas nas Batalhas das Ardenas, Charleroi e Mons. Como consequência as unidades alemãs passaram à invasão do território francês em 24 de Agosto, tendo como objectivo a ocupação de Paris, facto que só não se concretizou graças aos resultados da Batalha do Marne e do papel General Gallieni, Governador Militar de Paris, mais conhecido pelo episódio dos “táxis do Marne”, utilizando-os como transportes rápidos no reforço de tropas para a defesa de Paris. Em Setembro a guerra irá continuar, mas já tinha custado aos exércitos em confronto, mais de 500.000 mortos.

 

Finalmente, em 27 de Outubro em Moçâmedes iniciava-se o desembarque dos efectivos enviados pela metrópole para Angola e que no dia 18 de Dezembro, irão entrar em confronto no primeiro combate entre forças regulares portuguesas e alemãs de alguma dimensão, em Naulila, em consequência de um anterior e desagradável incidente em 17 de Outubro, onde o Governador da Damaralândia e alguns oficiais alemães são mortos, de forma pouco clara, por efectivos portugueses comandados pelo Alferes Manuel Sereno. Este incidente vai provocar a reacção das forças alemãs com o ataque a Cuangar, na margem esquerda do Cubango e sede da Capitania-Mor do Baixo Cubango, matando os Tenentes Ferreira Durão e Sousa Machado, um Sargento e dezoito praças, ficando a restante guarnição ferida. Este representava o primeiro sangue derramado em Angola durante a 1ª Grande Guerra.

 

Como consequência o Ten-Coronel Alves Roçadas organizou a partir de 31 de Outubro as “Forças em Operações ao de Sul de Angola”, composta pelos efectivos embarcados na Metrópole, da mobilização da colónia e de Landins provenientes de Moçambique e concentrou-as na linha Naulila-Dongoena, trocando-se os primeiros tiros em 12 e 13 de Dezembro, principalmente entre os Dragões comandados pelo Capitão Aragão, responsáveis pela segurança da margem esquerda do Rio Cunene e as forças alemãs do Major Frank. Entretanto, as restantes forças alemãs concentrada a 5 Km de Naulila, lançaram na manhã de 18 um violento ataque a que as forças portuguesas tentaram reagir, mas “mal coordenados, não conseguem opor-se à decisão e manobra enérgica dos alemães”, forçando a sua retirada, “vencidos mas com honra”, deixando no terreno mortos três oficiais: Capitão Homem Ribeiro e os Alferes Pereira Alves e Manuel Sereno, este último responsável pelo incidente inicial desta fase do embate. Esta vai representar a primeira derrota das forças nacionais durante a 1ª Grande Guerra, que deixam no terreno para além daqueles Oficiais, mais 66 militares, a que juntaram 74 feridos e 65 prisioneiros. Entretanto, as forças alemãs ocupam a 19 de Dezembro o Forte de Naunila, onde enforcam seis Praças portuguesas anteriormente capturadas, concentrando-se em Humbe todas as forças nacionais na zona Cahama-Gambos, onde a população local animada pela guerra dos brancos, aproveitou para a rebelião.

 

1GG001
Texto n.º 2 - 1915

A continuidade da ameaça às Colónias de Angola e Moçambique determinou que, apesar dos reveses sofridos no final de 1914, se continuassem a desenvolver esforços no sentido de Portugal garantir a inviolabilidade das suas fronteiras africanas, facto que irá determinar pressões do Governo de Lisboa sobre o Coronel Massano de Amorim para que, com as forças que dispunha passassem à actividade, especialmente no sentido de fazer voltar para o domínio português o chamado triangulo de Quionga, que em 1894 tinha sido usurpado pelos alemães, facto que só se irá efectivar com o envio de uma segunda expedição, mais forte que a primeira, um novo comandante militar, o Major Moura Mendes, oficial inexperiente do serviço do ultramar e a nomeação de Álvaro de Castro para Governador-Geral de Moçambique. No entanto, dado o estado sanitário lastimoso em que se encontravam os efectivos, composto por 41 oficiais e 1502 sargentos e praças, só em 1916 e mesmo assim sob o comando do Governador Álvaro de Castro, se dá consequência à ofensiva sobre as forças alemãs estacionadas ao longo do Rovuma.

 

Em Angola e depois do Combate de Naulila e com a demissão do Tenente-Coronel Alves Roçadas, este foi substituído por um oficial “cuja patente correspondesse ao efectivo das forças expedicionárias”, recaindo a nomeação no General Pereira d´Eça, o qual retomou a iniciativa das operações, a partir de 21 de Março, reocupando, a 7 de Julho, Humbe, que a seguir ao Combate de Naulila, tinha sido ocupada por forças alemãs, passando este local a ser o Quartel-General de Pereira d´Eça no seu esforço, quer para dominar o Cuanhama, quer para apoiar as forças Sul-Africanas do General Luiz Botha na invasão da Damaralândia, circunstância que iria ter pouco impacto nas operações, já que a 12 de Julho as forças alemãs da África Ocidental renderam-se, deixando Angola de ter como adversário directo forças regulares, mas mantendo um estado de beligerância contra as populações autóctones instigadas e dirigidas por agentes alemães. Assim, mantinha-se a necessidade de ocupar definitivamente o Cuanhama, “território de cerca de 20.000 Km2…antes da época das chuvas que começava em Setembro” o que levará ao Combate da Môngua, a 17 de Agosto embate violentíssimo, onde se voltou, com eficácia, a utilizar a táctica do “quadrado” para repelir o ataque, seguido de carga de cavalaria em exploração do sucesso e consolidação da vitória. As consequências foram no entanto pesadas para as forças portuguesas com 34 mortos, dos quais quatro oficiais e 55 feridos. A ocupação total do território Cuanhama só terminará em 1917, “cabendo ao General Pereira d´Eça a glória de ter dominado os povos de além Cunene e restabelecido a paz no sul de Angola”.

 

Entretanto na metrópole, a organização da Divisão Auxiliar, criada pelo Governo em 25 de Novembro de 1914, como forma de preparação para a guerra, sofria os revezes, não só pela necessidade de mobilização de efectivos para as colónias, mas também pela circunstância de, a solicitação do Reino Unido, terem sido cedidas 20.000 espingardas, com 600 cartuchos cada uma, com destino à África do Sul e 56 peças de tiro rápido, á Bélgica, o que significava a entrega de toda a artilharia desse tipo que guarnecia a grande unidade. Para dificultar a situação, um pronunciamento de oficiais do exército - “movimento das espadas” - que levou ao governo o General Pimenta de Castro, determinou o cancelamento de todas as medidas para a criação da Divisão Auxiliar Portuguesa, as quais só irão ser retomadas, depois do movimento revolucionário de 14 Maio de 1915, pelo novo Ministro da Guerra Norton de Matos, mas passando-se a chamar Divisão de Instrução, grande unidade ”capaz de fazer face a qualquer emergência onde quer que se tornasse preciso”, composta por 720 oficiais e 21741 sargentos e praças comandados pelo General Tamagnini de Abreu e Silva e estacionada no Campo de Manobras de Tancos.

 

No mar, a guerra continuou com raras batalhas de navios de superfície, caso do embate entre duas divisões de cruzadores de batalha em Fevereiro de 1915, sem resultados conclusivos, incrementando-se, principalmente pelo lado alemão, a guerra submersível. Assim, se a pouco-e-pouco o Mediterrâneo se vai tornando um “lago aliado”, com a frota austríaca refugiada nas suas bases e os navios turcos a ficarem limitados à navegação nos Mares Negro e da Mármara, apesar de inúmeras tentativas de franceses e ingleses em igualmente controlarem e dominarem aqueles mares, saldando-se as operações, principalmente as de Fevereiro de 1915, em total fracasso, por acção de minas turcas e dos submarinos alemães, nos restantes oceanos, tirando o sucesso inicial do Almirante Von Spee no Atlântico Sul, posteriormente a Batalha das Falkland, determinou o desaparecimento das grandes frotas alemãs dos teatros de operações, que passaram única e simplesmente a existirem com acções, por vezes muito bem-sucedidas, de corso e da guerra submersível, em que o trágico afundamento do paquete Lusitânia, com 1.198 mortos, entre os quais 128 americanos, irá ter importante reflexo no desenrolar da guerra no mar.

 

Em Portugal, a paupérrima condição da frota de guerra nacional, limitada pelas escoltas efectuadas para projecção de forças expedicionárias para Angola e Moçambique e o destacamento de unidades navais de soberania e protecção de outras possessões ultramarinas, veio a limitar a constituição da Divisão Naval de Instrução e Manobra fulcral para a defesa e intervenção militar de Portugal na guerra, deixando as águas nacionais aquém do que seria minimamente desejável para um país soberano e que, para além de se encontrar em estado de beligerância, os políticos desejavam levar para a declaração de guerra.

 

Na Europa e com a entrada da Bulgária na guerra ao lado dos Impérios Centrais em Julho de 1915, permitirá nova invasão da Sérvia pela fronteira leste e estancar a entrada das tropas aliadas vindas de Salónica, as quais aí estacionadas foram altamente atacadas não pelo inimigo, mas por outro também feroz - os mosquitos.

 

Entretanto, os aliados tentaram, depois do insucesso do controlo do estreito de Dardanelos por via marítima, tentar obtê-lo por via terrestre, criando para o efeito uma importante força naval-terrestre a Força Expedicionária do Mediterrâneo, composta por meios navais anglo-franceses e 5 divisões terrestres, inglesa, francesa, australiana e nova-zelandesa. A 4 de Março iniciou-se a acção preparatória, tendente a permitir o desembarque de uma força exploratória de Royal Marines, que veio a saldar-se totalmente infrutífera, dada a tenaz e eficiente resposta turca, apoiada técnica e taticamente por oficiais alemães. No entanto, a teimosia e firmeza de objectivos do Primeiro Lord do Almirantado Winston Churchill, fê-la prosseguir dando origem a 25 de Abril à Batalha de Gallipoli, verdadeiro fracasso para as forças aliadas, com pesadíssimas baixas de ambos os lados, perto de 600.000 mortos, mas com um registo atroz para os soldados australianos e neozelandeses, que deixaram no terreno grande parte dos seus efectivos. De referir que de todos os participantes na I Grande Guerra, a Austrália e a Nova Zelândia, representam os países que mais baixas sofreram em relação aos efectivos mobilizados, 322.000vs280.000, no caso da Austrália e 124.000vs58.000, no caso da Nova Zelândia. De referir ainda que em Gallipoli irá despontar um general turco, Mustafá Kemal, o fundador da Turquia moderna.

 

Se a defesa dos Dardanelos veio a saldar-se pela vitória turca com a retirada dos efectivos aliados entre Dezembro de 1915 e Janeiro de 1916, no caso do Médio Oriente o sucesso das armas dividiu-se em dois sentidos, no mais importante, mantendo o controlo do Canal do Suez, primordial para o abastecimento de combustível aos aliados, voltando a serem utilizadas forças oriundas de domínios britânicos, caso da Índia, para esse objectivo. No outro sentido, as forças anglo-indianas da Divisão Townshend, ao serem paradas no seu avanço para Bagdad, tendente ao controlo da Mesopotâmia, foram mesmo, depois de cercadas pelo exército turco e obrigadas a renderem-se em Abril de 1916.

 

Ainda na Europa, a Itália em 23 de Maio de 1915 declarou guerra ao Império Austro-Hungaro e só a este e deu início em Junho a uma série de investida sobre a fronteira comum, as doze Batalhas de Isonzo, de resultados desastrosos para as forças italianas, desprovidas, ao contrário dos austríacos, de forças musculadas alpinas. Na Flandres a continuação da Batalha de Champagne, iniciada em Dezembro de 1914, continuará a ser desfavorável para os aliados e especialmente para a FEB que deixará no terreno 11.652 britânicos, contra 8.600 alemães e que determinará novo reforço de efectivos, permitindo o lançamento de nova ofensiva em Novembro de 1915, em Artois, mas lamentavelmente sem resultados, que não fosse mais de 200.000 baixas entre os Aliados.

 

Finalmente, referência dramática para o uso da guerra química, especialmente sobre as trincheiras, inicialmente com o emprego do cloro em Abril de 1915, durante a 2ª Batalha de Ypres, atingindo especialmente duas divisões francesas, uma delas argelina e depois alargada a mais vinte agentes até ao final da guerra, que irão provocar, para além de mortos, uma extensíssima legião de incapacidades parciais e totais permanentes.

 

O ano de 1915 nada veio a trazer de significativas vitórias de ambos lados, que pudessem determinar o final da guerra, para além do constante engrossar de vítimas de embates absurdos e desumanos.

 

MV

Referências

-AFONSO, Aniceto; MATOS GOMES, Carlos de; Portugal e a Grande Guerra; 2013

-FERREIRA MARTINS; História do Exército Português; 1945

-COELHO, Adolfo; Nos Bastidores da Grande Guerra; 1934

-MASSON, Philippe; Histoire de l´armée française de 1914 à nos jours; 2002

-REGALADO, Jaime Ferreira; Cuamatos 1907; 2004

-SPIESS, Johannes; Seis Anos de Cruzeiro em Submarino; 1945

-ABECASSIS, Fernando et al.; A Grande Guerra em Moçambique; 2014

Texto n.º 3 - “O COMBATE DE MÔNGUA”

Com a derrota no Combate de Naulila em 18 de Dezembro de 1914 e a exoneração do Tenente-Coronel Alves Roçadas de comandante das forças em operações em Angola, recaiu sobre General Pereira d´Eça a incumbência de continuar a direcção e comando das actividades militares no Sul de Angola e de igualmente substituir o Major Norton de Matos no governo da Província.


O General António Júlio da Costa Pereira d´Eça nasceu em 31 de Março de 1852 e era oriundo da Arma de Artilharia, tinha feito parte da expedição de Mouzinho de Albuquerque a Maputo continuando a partir de aí, uma carreira militar colonial. Quando se iniciou a IGG era Ministro da Guerra no governo de Bernardino Machado e um entusiasta da participação de Portugal no conflito mundial ao lado dos Aliados, até que o golpe palaciano “Movimento das Espadas“ determinaria a constituição de um novo governo, chefiado pelo General Pimenta de Castro e a nomeação do General Pereira d´Eça para Angola, onde desembarca a 21 de Março de 1915.


Se a preocupação do conflito frente às forças regulares alemãs da Damaranlândia tinha terminado, pela sua rendição ao exército do General Botha da União Sul-Africana em 9 de Julho, o mesmo não se verificava em relação à rebelião dos povos além-Cunene, instigados por agentes alemães, mas acima de tudo, animados pelas incapacidades e insucessos demonstrados pelas forças nacionais nas operações anteriores.


Havia pois a necessidade de ocupar os 20.000 Km2 da região do Cuanhama, o que se iniciou a 7 de Julho, com a reocupação de Humbe, que havia sido perdida para as forças alemãs a seguir ao Combate de Naulila. Posteriormente, urgia ultrapassar com forças de ocupação a Serra da Chela, utilizando-se pela primeira vez camiões de transporte e estabelecendo-se inúmeros quilómetros de ligações telefónicas e criando-se redes telegráficas. Entretanto, pela extensão do território a ocupar houve necessidade de organizar as forças nacionais em cinco destacamentos (Cassinga, Evala, Naulila, Cuamato e Cuanhama). A este último coube o mais forte embate no Combate de Môngua que durou quatro dias de 17 a 20 de Agosto e que pôs à prova o estoicismo e a valentia do soldado português e que só garantiu a victória, graças ao rigor táctico e disciplinado da formação dos quadrados, organizados pela infantaria portuguesa e das cargas de cavalaria realizadas em exploração do sucesso da acção dos quadrados e do seu poder de fogo em deslocamento defensivo, onde se destacou sempre o Batalhão de Marinha e seu comandante 1º Tenente Afonso Cerqueira.


De referir que o desenvolvimento da ocupação territorial só foi possível graças à acção do Destacamento do Cuamato, sobre o comando do Tenente Bento Roma, que, mais tarde, haveria de ser o Herói de Lacouture, durante a Batalha de La Lys, funcionando como reserva e unidade de recompletamento das forças em operações. Indubitavelmente este representa o maior embate e o mais sangrento no cenário de guerra em Angola, onde deixámos o sangue de 36 militares, dos quais quatro oficiais (Major Afonso Pala, Capitão Francisco de Sousa, Tenente Damião Dias e Tenente Passos e Sousa) e 55 de feridos.


A Pereira d´Eça, o “General de aço” coube-lhe a glória de ter comandado as forças que dominaram os povos de além-Cunene e restabelecido a paz no sul de Angola, escrevendo no seu relatório: “Percorri as faces do quadrado a felicitar as tropas pela sua bravura e o entusiasmo com que fui recebido e com que foi saudada a Pátria e a República mostravam-me bem nitidamente aquilo que para mim sempre fora indiscutível; que nada tinha amortecido o valor do soldado português e que só tinha de orgulhar-me pela sua atitude em todas as situações da dura campanha em que estávamos empenhados”.


Só em Fevereiro de 1917 se dará a total submissão dos povos do Cuanhama, facto que já não teve o comando do General Pereira d´Eça que entretanto regressara à metrópole, doente e esgotado, vindo a falecer a 6 de Novembro de 1917.


MV

Referências

-AFONSO, Aniceto; MATOS GOMES, Carlos de; Portugal e a Grande Guerra; 2013

-FERREIRA MARTINS; História do Exército Português; 1945 -REGALADO, Jaime Ferreira; Cuamatos 1907; 2004

-ABECASSIS, Fernando et al.; A grande Guerra em Moçambique; 2014

General Pereira DEça
Texto n.º4 - “Coronel Bento Roma”

Assentou praça, como voluntário, no Regimento de Cavalaria N.º 6, a 5 de Agosto de 1903 e, até 1906, tirou as preparatórias na Universidade de Coimbra e nas Escolas Politécnicas de Lisboa e do Porto. Frequentou a Escola do Exército, entre 1906 e 1909. Foi promovido a alferes, em 1909, atingindo o posto de coronel, em 1933.

Depois de prestar serviço em várias unidades no continente, participou no combate às incursões monárquicas. Foi mobilizado para Angola em 1912, onde permaneceu até ao ano seguinte, tendo comandado o posto de Binde, no distrito de Benguela e posteriormente o de São João do Pocolo. Em 1915, participou nas campanhas militares do sul de Angola, onde se destacou no Combate de Môngua, em que o desenvolvimento da ocupação territorial só foi possível graças à acção do Destacamento do Cuamato, sobre o comando do então Tenente Bento Roma. Regressou em 1916, sendo enviado a França para preparar a participação portuguesa na frente ocidental, junto das forças inglesas.

Por ocasião da 1ª Grande Guerra Mundial e no posto de Capitão, foi para a Flandres integrado no CEP, no qual se destacou por actos de bravura, comandando a 1ª Companhia do Batalhão de Infantaria nº 13, originário de Vila Real, e chegando a ser interinamente o Comandante e por mais vezes o 2º Comandante do Batalhão. Nesta situação e na Batalha de La Lys a 9 de Abril de 1918, foi feito prisioneiro e libertado depois do Armistício. Comandou a Companhia portuguesa na Parada da vitória em Paris a 14 de Julho de 1919.

No pós-guerra, organizou e instalou, em Tancos, a Escola de Instrutores de Infantaria, com o objectivo de preparar grupos de instrutores para as escolas de recrutas. Entre 1920 e 1923, sendo Governador dos distritos de Cubango, Lunda, que acumulou o com o de Governador interino de Moxico. Foi neste período que consolidou a ocupação de todo o território, em operações militares, numa das quais foi ferido. A 5 de Fevereiro de 1922 foi feito Comendador da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito.[1]Exerceu ainda o cargo de governador do distrito da Huíla. Em 1930, ocupou o cargo de Governador-geral de Angola, de 31 de Março a 3 de Julho de 1930, pedindo nesta data a sua demissão, sendo antecedido por Filomeno da Câmara de Melo Cabral e sucedido por José Dionísio Carneiro de Sousa e Faro.[2][3][4] Em 1929 entrou ao serviço da Companhia de Moçambique onde prestou serviço até 1933, data em que regressa definitivamente a Portugal. A 5 de Outubro de 1932 foi feito Grande-Oficial da Ordem do Império Colonial.[1]

É, então, nomeado sub-director do Instituto Feminino de Educação e Trabalho, actual Instituto de Odivelas, tendo ocupado o cargo até 1938.

Em 1949, apoiou a candidatura do General Norton de Matos à Presidência da República, fazendo parte da sua Comissão Central.


Bento Esteves Roma – Nasceu em Chaves a 2 de Janeiro de 1884 e faleceu em Lisboa a 23 de Dezembro de 1953


MV

Referências

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Cor Bento Esteves Roma
Texto n.º5 - 1916

O ano de 1916 foi referêncial para a participação de Portugal na 1ª Grande Guerra, desde logo em resultado das pressões exercidas pelo Governo de Lisboa junto dos seus aliados de Londres, que os levaram a concordarem com a belingerância portuguesa na Frente da Flandres, especialmente numa altura em que os Aliados assumiam a ofensiva do Mediterrâneo, com o natural movimento de efectivos.


Politicamente, desde 7 de Agosto de 1914, Portugal vinha declarando formalmente, através da vontade do Congresso da República, personificada pelo texto lido pelo Presidente do Ministério Dr. Bernardino Machado e transmitida especialmente ao Embaixador junto da Chancelaria de Berlim, Dr. Sidónio Pais de que “…a Nação Portuguesa não declara a sua neutralidade porque, sendo aliado da Grã-Bretanha, está na disposição de cumprir firme e lealmente os deveres que daí derivam, desde que solicitados…”. Assim, era a confirmação, perante o Governo Alemão dos nossos interesses e compromissos, determinando que a Alemanha não pudesse manifestar a sua surpresa, perante qualquer acto de belingerância que fosse praticado pelo Governo Português a solicitação do Governo Britânico, para além do legítimo direito de defesa do território nacional, como virá a suceder, desde o início da guerra, em todas as possessões ultramarinas.


Tal virá a suceder a partir de 17 de Fevereiro de 1916 em que o Governo Português recebia o pedido de Londres “:..em nome da aliança…para a requisição urgente de todos os barcos inimigos estacionados em portos portugueses…”. Essa medida teve efeito prático e operacional em 23 de Fevereiro de 1916, quando uma força da Divisão Naval de Defesa, comandada pelo Capitão-de-Fragata Leote do Rego, a executou com total eficiência e as honras devidas. Este facto teve como consequência a apresentação de veementes protestos do Embaixador Alemão em Lisboa, a que se seguiu em 9 de Março de 1916 a Declaração de Guerra da Alemanha e a 15 do mesmo mês da Áustria. Portugal passava à condição de Estado Beligerante.


Entretanto continuava-se, com avanços e recuos, a preparação da Divisão Auxiliar que viria a reunir-se em Tancos, num conjunto de 30.000 homens sob o comando do General Fernando Tamagnini de Abreu e Silva. Pelo lado do mar, a Divisão Naval de Defesa, com os seus parcos e envelhecidos meios, tentava proteger e vigiar as costas portuguesas, reforçada, a partir dos finais de 1916, com meios navais franceses e ingleses, os primeiros assumindo a responsabilidade da defesa dos portos do Norte de Portugal e os segundos das costas Vicentina e do Algarve. Refira-se que esforço da Marinha Portuguesa obrigava-a igualmente a movimentar meios para protecção dos territórios ultramarinos, a que se juntava a maior projecção de uma força terrestre daquele ramo, o Batalhão de Marinha, com 600 homens sob o comando do 1º Tenente Afonso Júlio Cerqueira, oficial de grande têmpera, que em 1915 se cobriu de glória com os seus comandados, durante a campanha do General Pereira d´Eça em Angola, para além de se começar a prever as escoltas dos navios nacionais que iriam cruzar o Atlântico com destino a França.


Ao “Milagre de Tancos” coube um importante passo na intervenção de Portugal na 1ª Grande Guerra, em especial no teatro europeu, em atenção às solicitações britânicas (any further militar cooperation), fazendo reconhecer, desde logo o aumento das fragilidades da estrutura castrense, especialmente no que tocava as necessidades de graduados, quer sargentos, quer principalmente oficiais, na altura sobrecarregados com as sucessivas mobilizações para as campanhas de defesa dos territórios africanos. A solução para este problema foi encontrada com a criação de Escolas de Milicianos, onde se passaram a formar cabos com o 2º grau de instrução primária, em sargentos milicianos e os sargentos com as habilitações requeridas, em oficiais milicianos.


Os esforços da mobilização para Africa, a manutenção do efectivo dos quarteis para a defesa territorial e a necessidade de garantir os meios humanos para a Divisão de Instrução determinaram, para além de sacrifícios de ordem financeira e orçamental, os mais dolorosos, de ordem social, que atingiram todos os estratos da população nacional e que só foram possíveis graças à produção de legislação que veio a colmatar essas carências, permitindo a mobilização de médicos e veterinários, a instauração da pena de morte para crimes militares, a alteração das tabelas de lesões permanentes impeditivas à condição militar, etc.


O “Milagre de Tancos”, representativo do génio organizativo de Norton de Matos, inicia-se de facto, a partir de Fevereiro de 1916, altura em que se começam a concentrarem os meios que iriam guarnecer a “Divisão de Instrução” a qual, apesar de inúmeras deficiências e carências, fica concluída, incluindo a sua instrução, em 22 de Junho de 1916, altura em que, antes da sua desmobilização para os respectivos aquartelamentos, é apresentada, com pompa e circunstâncias às autoridades nacionais. Em 15 de Agosto de 1916, o Ministro da Guerra Norton de Matos determinou a mobilização da 1ª Divisão Territorial, iniciando-se o aprontamento de uma 2ª Divisão, que no conjunto representava um Corpo de Exército e que iria ser designado por Corpo Expedicionário Português (CEP).

Refira-se que em 5 de Dezembro de 1916, o ministro Norton de Matos definiu a composição do CEP e determinou que se começasse a preparação de um 2º Corpo, verdadeira loucura para as capacidades do país.


Assim, as forças expedicionárias a França ficaram compostas pelo CEP, organizado em Corpo de Exército, que ficaria subordinado às ordens do Marechal Sir Douglas Haig, Comandante-em-chefe das forças britânicas e pelo Corpo de Artilharia Pesada Independente (CAPI), directamente subordinado ao comando francês e que no seu conjunto representou a projecção de 56.493 homens e mulheres portuguesas.


Em Africa e em Moçambique a inação que se verificava desde 1914, depois da chegada da 1ª Expedição de Massano de Amorim e que não se tinha alterado com a 2ª Expedição de Álvaro de Castro foi, apesar de tudo, modificada com a Declaração de Guerra, determinando que as depauperadas e mal preparadas forças portuguesas, ao tentarem passar o Rovuma para ocuparem cidades alemãs, fossem estrondosamente derrotadas no Combate de Namaca em 27 de Maio de 1916, paralisando por completo qualquer acção ofensiva e sujeitando-as unicamente a medidas de defesa frente às inúmeras flagelações aos postos fronteiriços portugueses.


Tais factos, obrigaram á projecção de uma 3ª Expedição, nos primeiros dias de Julho, a mais forte de todas, composta de três batalhões de Infantaria, três batarias de metralhadoras, três batarias de artilharia e diversas unidades de apoio, num total de 159 oficiais e 4487 sargentos e praças, comandada pelo General Ferreira Gil, que, juntando-a aos efectivos das anteriores expedições, voltou a passar o Rovuma, tendo iniciado a progressão em território alemão, vindo a ocupar Navala e os seus importantes poços de água, facto que se conseguiu á custa de mortíferos embates e baixas, entre outras, do comandante da artilharia, Major Leopoldo da Silva, morto no Combate de Quivambo. Esta morte teve o condão de afectar o moral das tropas, que aliado ao reforço das hostes alemãs com marinheiros do cruzador Koenigsberg, tornou insustentável a manutenção de Nevala, determinando uma retirada táctica e ordeira a 19 de Novembro de 1916, passando-se, o Rovuma a 1 de Dezembro.


Em Moçambique chegava-se ao fim de 1916, com grandes e esforçados sacrifícios, que nada auguravam de bom para as cores portuguesas durante o ano 1917.

No mesmo ano, em Angola, as operações continuavam sob o comando rigoroso e eficaz do General Pereira d´Eça no sentido de se obter a submissão do Cuanhama e a pacificação total do Baixo Cunene, facto que viria a concretizar-se durante Fevereiro de 1917.


Referência ainda para Dezembro de 1916 e para a circunstância de, pela primeira vez, um navio inimigo ter atacado um porto nacional, o de Funchal e ter causado o afundamento de três navios por torpedeamento.


Na frente ocidental europeia, que desde o fim do ano anterior se tinha estabelecido, permitiu delinear para 1916 novas acções, que do lado aliado, o Marechal Joffre desejava orientar os esforços numa grande ofensiva no Somme, enquanto do lado alemão, o Marechal Falkenheyn, convencido que a frente oriental se encontrava dominada, com os Exércitos Czaristas a braços com graves tumultos internos, se preparou para lançar a Operação “Julgamento” sobre a região de Verdun.


A operação foi preparada em dois meses e tinha uma finalidade dupla: tomar os fortes de Verdun, pelo seu aspecto simbólico e desmoralizante para as forças francesas e a abertura de uma brecha na frente da responsabilidade dos exércitos de França, que a levasse até às estradas para Paris. O sector foi igualmente escolhido para permitir a ofensiva do V Exército, reforçado por 10 Divisões e comandado pelo Príncipe Herdeiro, o Kronprinz, onde se reafirmava o apogeu e supremacia da artilharia sobre as outras armas. Para isso, foram disponibilizadas para acção, 1.300 canhões, dos quais mais de 700 eram pesados e 2.5 milhões de granadas.


A barragem iniciou-se às 08:15 de 21 de Fevereiro e durou até às 16:00, altura em que se lançou o assalto da infantaria alemã que, apesar da qualidade e supremacia do reconhecimento aéreo, poucos resultados em ocupação territorial trouxe, determinando que em 22 de Fevereiro os bombardeamentos se reiniciassem e se mantivessem durante “300 dias e 300 noites” de apocalipse, com consequências tenebrosas para ambos os lados, que se elevaram a 163.000 mortos e desaparecidos do lado francês e a 143.000 do lado alemão e que virão a transformar os campos de Verdun “num país deserto e morto onde uma única coisa se manifesta como viva, é o canhão”.


Verdun é principalmente uma batalha onde se opõe o “homem ao canhão”, onde os abastecimentos e as comunicações se tornam quase impossíveis, onde as evacuações de feridos são impraticáveis, onde a guerra de trincheiras é praticamente inexistente, é uma batalha que provoca mais desaparecidos na lama e na terra revolta, do que mortos. As “linhas” ou o que delas restavam, foram defendidas por homens em pequenos grupos, normalmente não enquadrados, em que cada um tentava manter a sua “terra” e de forma solidária, apoiar o seu camarada de armas, como foi reconhecido pelo Marechal Pétain e a que os alemães deram o nome de frontkamaraden.


O alívio aos campos de Verdun, onde as percas territoriais dos franceses até 11 de Julho de 1916, última ofensiva alemã, foram sendo recuperadas pouco a pouco e quase totalmente até ao final de Dezembro de 1916, não terá sido estranho a pressão motivada pela execução da Batalha do Somme, a partir de 1 Julho de 1916, mas que, acima de tudo, representou um esforço logístico e táctico em fazer equilibrar os meios em confronto, através da criação de vias de abastecimento, do aumento dos meios de artilharia, do número de esquadrilhas de aviação, da reposição das divisões perdidas nas batalhas e de uma eficiente organização de espionagem e contra-espionagem. “Foi graças a uma melhoria constante da organização do comando, por um sentido táctico muito fino, por um aperfeiçoamento sem cessar das defesas, que Verdun foi salvo e o General Pétain foi verdadeiramente a alma deste progresso…”, dirá o Marechal Joffre.

Ao contrário de Verdun, insofismável victória francesa, Somme irá representar uma dolorosa derrota aliada, ferida aberta no Contingente Expedicionário Britânico (FEB), onde um exército foi gratuitamente aniquilado.


A preparação da batalha coube, do lado britânico, ao General Sir Douglas Haig, que no final de 1915 tinha substituído o General French, afastado em virtude das inúmeras baixas e insucessos que a FEB tinha nos dois primeiros anos sofrido. O esforço da batalha iria recair principalmente nas 20 divisões do 4º Exército do General Rawlinson, já que os franceses a contas com a situação em Verdun, só iriam participar com 3 divisões do 6º Exército do General Fayolle.


O alto-comando britânico continuava convencido, ao contrário do que a Batalha de Verdun vinha provando, que uma bem utilizada barragem de artilharia destruiria as posições alemãs, numa frente de menos de 25 km e facilitaria a intervenção da infantaria. A qualidade dos abrigos subterrâneos e das medidas de protecção das linhas, vieram provar que assim não era, apesar da violência do fogo de artilharia, as estruturas de defesa alemãs estavam em condições de rechaçarem os primeiros 60.000 soldados britânicos, que ao som das suas gaitas de foles, avançavam a passo para a morte. Foi um massacre. Em menos de duas horas, mais de metade do efectivo lançado no assalto, estava morto ou ferido, pelas balas das metralhadoras ou os estilhaços das granadas. Apesar disso, uma segunda vaga de assalto foi lançada, com os mesmos resultados da primeira, apesar de pela primeira vez se terem utilizado “carros de combate”. Neste assalto, o 1º Regimento da Terra Nova, dos 752 homens que o tinham iniciado, 684 tinham desaparecido, morrido ou ficado feridos, contra nenhuma baixa alemã. Enquanto os britânicos tinham sofrido mais de 60.000 baixas, os alemães não tinham chegado às 7.000. “Nesse dia o Exército Britânico sofreu mais baixas do que as registadas no conjunto das guerras da Crimeia, dos Boers e da Coreia. Para a Grã-Bretanha, o primeiro dia da Batalha do Somme custou, em vidas humanas, oito vezes mais que Waterloo”. Esta batalha representa, pelas suas consequências sociais, o endurecimento da participação na guerra e a necessidade de mostrar a vontade de “vingar” a derrota humilhante, que cada súbdito de Sua Majestade sentia.


Curiosamente os resultados das Batalhas de Verdun e do Somme, especialmente no acumular de baixas, afectou mais o alto-comando alemão do que o aliado, onde só o General Joffre viria a ser substituído em Dezembro de 1916 pelo General Nivelle, enquanto do lado alemão, o General Falkenhayn, que para além dos seus sucessos na frente ocidental, tinha graças a uma brilhante contra-ofensiva eliminado o exército romeno e obrigado Bucareste a um cessar-fogo, foi rendido pela dupla de Generais Hindenburg e Ludendorff, que tão bons resultados tinham tido na frente oriental.


Entretanto e no mar, a partir de 31 de Maio de 1916 dava-se a mais importante batalha naval da 1ª Grande Guerra e a única onde se opuseram os grandes couraçados da Frota de Alto Mar Alemã comandada pelo Almirante Scheer e os da Grande Esquadra Inglesa do Almirante Jellicoe. O embate, na Batalha da Jutlândia, teria como efeito imediato e no entendimento alemão retirar a hegemonia naval aos ingleses e pelo lado inglês, fazer regressar os grandes vasos de linha aos portos alemães.

No final da batalha, que opuseram 250 navios das duas grandes frotas de guerra, os alemães reclamaram a vitória e tiveram razão, dado a diferença de baixas, mas não puderam, até ao final da guerra permitir-se a novo confronto com as suas frotas oceânicas. Assim, os ingleses perderam 14 navios de superfície contra 11 alemães, apesar destes terem perdido um couraçado, contra nenhum inglês, mas estes ficaram sem 3 cruzadores de batalha, contra 1 alemão. No que toca às baixas humanas, a desproporção ainda foi maior, com 6.067 mortos e 510 feridos do lado da Grande Esquadra Inglesa contra 2.551 mortos e 507 feridos do lado da Frota de Alto Mar Alemã.


A “British Legion” recordou “Today marks the centenary of Battle of Jutland, a pivotal moment in the struggle for naval supremacy in the First World War” Finalmente na frente russa, onde se opunha aos exércitos austro-húngaros, conheceu a partir de 4 de Junho de 1916 e com a ofensiva dos exércitos czaristas do General Brusilov, o maior sucesso militar em termos comparativos para uma única acção militar da 1ª Grande Guerra, com percas de perto 1 milhão de homens dos Exércitos das Potências Centrais e a recuperação de mais de 100 Km de território anteriormente perdido. A este facto, aliou-se a morte do Imperador Francisco José e o aparecimento na opinião pública austro-húngara de um forte desejo de paz.


MV

Referências

-AFONSO, Aniceto; MATOS GOMES, Carlos de; Portugal e a Grande Guerra; 2013

-FERREIRA MARTINS; História do Exército Português; 1945

-REGALADO, Jaime Ferreira; Cuamatos 1907; 2004

-ABECASSIS, Fernando et al.; A grande Guerra em Moçambique; 2014

-COELHO, Adolfo; Nos Bastidores da Grande Guerra; 1934

-COELHO, Adolfo; Espionagem – 2º volume; 1933

-MASSON, Philippe; Histoire de l´armée française de 1914 à nos jours; 2002

-AUDOIN-ROUZEAN, Stéphane; Um mito na Batalha de Verdun; 1994

-SPIESS, Johannes; Seis Anos de Cruzeiro em Submarino; 1945

-WINTER, Jay; A batalha do Somme: uma hecatombe britânica; 1994