Breves notas sobre a participação Portuguesa na 1ª GRANDE GUERRA - 1914
parte 1
Servindo de pretexto, a recusa do Reino da Sérvia em aceitar que as investigações ao assassinato do Arquiduque Francisco Fernando e de sua mulher a Princesa Sofia, ocorrido em Sarajevo em 28 de Junho de 1914, fossem conduzidas pelas autoridades austríacas, o Império Austro-húngaro declarou guerra à Sérvia em 28 de Julho de 1914 e no dia seguinte bombardeou Belgrado. No entanto, só no dia 1 de Agosto de 1914, com a declaração de guerra da Alemanha à Rússia, inicia-se formalmente a 1ª Grande Guerra que haveria, durante mais de quatro anos, trazer inúmeros infortúnios a todos os que nela se viram obrigados a intervir.
De facto, no dia 1 de Agosto, pelas 17:00 H, o Embaixador Alemão, entregou em S. Petersburgo a declaração de guerra entre aquelas duas nações, cada uma apoiando os contendores de uma disputa até aí regional, isto é, o Czar das Rússias, mobilizando os seus exércitos em reforço da dignidade da soberania Sérvia e o Kaizer da Alemanha garantindo o apoio ao Imperador Francisco José numa eventual contenda com a Rússia e ocasionando o alargamento sucessivo do teatro de operações à beligerância global da Europa. Esta circunstância, determinará que o Império Alemão de imediato, desenvolvesse outras acções militares, em outros pontos do Mundo, não tanto expansionistas das suas influências territoriais, mas fixadoras de meios militares dos seus adversários, descentralizando assim, o esforço militar da Europa para outras zonas, com relevo para a África, onde Portugal tinha as suas principais colónias.
Assim vai suceder em 25 de Agosto de 1914, com o ataque de uma força proveniente da África Oriental Alemã ao Posto fronteiriço de Maziúa, no norte de Moçambique, na margem do Rovuma, dando-se a primeira baixa neste conflito, apesar de Portugal ainda não se encontrar em situação de beligerância declarada, o que só se virá a verificar em 9 de Março de 1916, em consequência do apresamento em 23 de Fevereiro dos navios alemães surtos nos portos portugueses. O primeiro militar nacional morto em combate na 1ª Grande Guerra foi um Sargento Enfermeiro da Armada de apelido Costa, que comandava aquele posto fronteiriço e que pelas 05:00 H foi atacado por uma força militar proveniente daquela possessão Alemã, provocando ainda alguns feridos na pequena guarnição indígena que mantinha aquela posição.
Na época, já se tinha verificado a 2 de Agosto a invasão do Luxemburgo e a 4 de Agosto da Bélgica, pelas divisões alemãs, o que irá determinar uma catadupa de acontecimentos que levarão ao envolvimento generalizado da Europa no conflito. A 3 de Agosto a declaração de guerra da Alemanha à França, que garantia a neutralidade da Bélgica e em 5 de Agosto a declaração de guerra da Grã-Bretanha à Alemanha, com a projecção da FEB (Força Expedicionária Britânica) para França em 9 de Agosto.
Entretanto, Portugal, em 7 de Agosto, declara a sua não neutralidade e a 14 autoriza o desembarque de tropas britânicas na Beira com destino à Niassalândia, dando-se início ao esforço de guerra de Portugal, inicialmente como resposta aos apetites do Império Alemão, principalmente sobre as nossas colónias de Angola e Moçambique, para onde, nos dias 11 e 12 de Setembro e na base de mobilização ocorrida em 18 de Agosto de 1914, embarcaram no Cais de Alcântara, respectivamente1525 homens para Angola e 1539 para Moçambique, sendo que as primeiras eram compostas pelo 3º Batalhão do RI14 (Viseu), 3º Esquadrão do RC9 (Porto), 2ª Bataria do RAM (Viana do Castelo), 2ª Bataria do 1º GM (Lisboa), Serviços de Saúde do 1º GCS (Lisboa) e Administração Militar do 1º GCAM (Lisboa), comandadas pelo Ten-Coronel Alves Roçadas e as segundas comandadas pelo Ten-Coronel Massano do Amorim e composta pelo 3º Batalhão do RI15 (Tomar), 4º Esquadrão do RC10 (Vila Viçosa), 4ª Bataria do RAM (Évora), Serviços de Saúde do 2º GCS (Coimbra) e Administração Militar do 2º GCAM (Coimbra). A estas expedições outras se seguiram, incluindo um Batalhão de Marinha comandado pelo 1º Tenente Afonso Cerqueira e que viriam a totalizar 9.209 para Angola e 30.701 para Moçambique de efectivos para aquelas colónias, não se contabilizando aqui o esforço de mobilização local.
Na Europa com a ocupação da Bélgica e a queda de Bruxelas em 24 de Agosto terminava a Batalha das Fronteiras a que se seguirá uma ofensiva francesa tendente a recuperar a Alsácia, ocasionando, ainda durante o mês de Agosto, as suas primeiras derrotas nas Batalhas das Ardenas, Charleroi e Mons. Como consequência as unidades alemãs passaram à invasão do território francês em 24 de Agosto, tendo como objectivo a ocupação de Paris, facto que só não se concretizou graças aos resultados da Batalha do Marne e do papel General Gallieni, Governador Militar de Paris, mais conhecido pelo episódio dos “táxis do Marne”, utilizando-os como transportes rápidos no reforço de tropas para a defesa de Paris. Em Setembro a guerra irá continuar, mas já tinha custado aos exércitos em confronto, mais de 500.000 mortos.
Finalmente, em 27 de Outubro em Moçâmedes iniciava-se o desembarque dos efectivos enviados pela metrópole para Angola e que no dia 18 de Dezembro, irão entrar em confronto no primeiro combate entre forças regulares portuguesas e alemãs de alguma dimensão, em Naulila, em consequência de um anterior e desagradável incidente em 17 de Outubro, onde o Governador da Damaralândia e alguns oficiais alemães são mortos, de forma pouco clara, por efectivos portugueses comandados pelo Alferes Manuel Sereno. Este incidente vai provocar a reacção das forças alemãs com o ataque a Cuangar, na margem esquerda do Cubango e sede da Capitania-Mor do Baixo Cubango, matando os Tenentes Ferreira Durão e Sousa Machado, um Sargento e dezoito praças, ficando a restante guarnição ferida. Este representava o primeiro sangue derramado em Angola durante a 1ª Grande Guerra.
Como consequência o Ten-Coronel Alves Roçadas organizou a partir de 31 de Outubro as “Forças em Operações ao de Sul de Angola”, composta pelos efectivos embarcados na Metrópole, da mobilização da colónia e de Landins provenientes de Moçambique e concentrou-as na linha Naulila-Dongoena, trocando-se os primeiros tiros em 12 e 13 de Dezembro, principalmente entre os Dragões comandados pelo Capitão Aragão, responsáveis pela segurança da margem esquerda do Rio Cunene e as forças alemãs do Major Frank. Entretanto, as restantes forças alemãs concentrada a 5 Km de Naulila, lançaram na manhã de 18 um violento ataque a que as forças portuguesas tentaram reagir, mas “mal coordenados, não conseguem opor-se à decisão e manobra enérgica dos alemães”, forçando a sua retirada, “vencidos mas com honra”, deixando no terreno mortos três oficiais: Capitão Homem Ribeiro e os Alferes Pereira Alves e Manuel Sereno, este último responsável pelo incidente inicial desta fase do embate. Esta vai representar a primeira derrota das forças nacionais durante a 1ª Grande Guerra, que deixam no terreno para além daqueles Oficiais, mais 66 militares, a que juntaram 74 feridos e 65 prisioneiros. Entretanto, as forças alemãs ocupam a 19 de Dezembro o Forte de Naunila, onde enforcam seis Praças portuguesas anteriormente capturadas, concentrando-se em Humbe todas as forças nacionais na zona Cahama-Gambos, onde a população local animada pela guerra dos brancos, aproveitou para a rebelião.
Com este embate, as depauperadas forças não voltaram a ter qualquer novo confronto com forças regulares alemãs, ocupando-se unicamente na pacificação da região, não sem que o Comandante português tirasse as consequências dos resultados do embate, apresentando a sua demissão e sendo substituído em Março de 1915 pelo General Pereira d´Eça.
No que toca à expedição para Moçambique, esta chega a Lourenço Marques a 16 de Outubro e logo segue para Porto Amélia, área de grande influência comercial alemã, onde desembarcaram em 1 de Novembro, mostrando-se a campanha, desde logo, desastrosa, não só por grande desorganização e incompetência operacional, facto estranho, já que o seu Comandante, Massano de Amorim, era um oficial muito experiente nas operações de África, como pela circunstância dos oponentes, serem comandados pelo General Von Lettow-Vorbeck, grande especialista em técnicas de guerrilha e que consegui manter-se invicto até ao final da guerra.
Se por um lado, a contenda inicial entre a Sérvia e o Império Austro-húngaro se saldava pela vitória dos primeiros, outros actores eram chamados à beligerância, caso do Japão ao lado dos aliados, assim como a Austrália e a Nova Zelândia e a Turquia declarando guerra à Rússia em 29 de Outubro de 1914, colocava-se ao lado das potências centrais, o que virá a agravar o esforço de guerra da França e da Grã-Bretanha.
MV
Referências:
-AFONSO, Aniceto; MATOS GOMES, Carlos de; Portugal e a Grande Guerra; 2013 -FERREIRA MARTINS; História do Exército Português; 1945 -COELHO, Adolfo; Nos Bastidores da Grande Guerra; 1934 -MASSON, Philippe; Histoire de l´armée française de 1914 à nos jours; 2002 -REGALADO, Jaime Ferreira ; Cuamatos 1907; 2004 -ABECASSIS, Fernando et al. ; A Grande Guerra em Moçambique ; 2014